Encontro

para usar mãos dadas

No espelho d’água de um lago de sonhos

Meus olhos veem a imagem tua

a misturar com o brilho da lua.

Este lago é testemunha

do amor que vivemos

No tapete verde iluminado

Entre as flores e o gramado

O encontro que tivemos.

 

Teus olhos cheio de encantos

A ler o brilho dos olhos meus

Revelaram desejos tantos

Nascidos em tempos distantes

a procura de tu e eu.

 

Beijando  água, a luz

que o céu despejava

Refletiu no lago prateado

a imagem de dois namorados

a caminhar absortos

De tal forma protegidos

Um dentro da mão do outro.

 

Aparecida Dias

 

 

 

 

Acredita

Tu és, acredita,maos-dadas

a minha história mais bonita.

O amor mais intenso que eu vivi.

A paz maior que senti.

Tu és,

Podes acreditar

 

O mais belo caminho nos dado a caminhada

A companhia agradável que se faz de mãos dadas…

O sonho perfeito

Onde quero ficar.

A melodia suave que embala os desejos meus

E num breve instante nos leva aos céus.

É desse embalo de sonho que eu não quero acordar.

E danço sob teus carinhos

a escrever demoradamente

a história que nos veste

cada vez que me despe.

Tu és, acredita,

a minha história mais bonita.

Aparecida Dias

 

 

Naufrágio

Mergulhada em lembranças

Deixo-me levar pelas ondas da saudade…

Gigantes ondas que engolem-me com toda a minha história

Leva-me ao fundo escuro  do mar

Onde perdida e a chorar

Vagueio…

Em desespero, com medo da morte

Rogo aos céus pela minha sorte

E sem forças para lutar

Entrego-me à gula  das ondas famintas

Já sem destino, sangrando de dor

A insana tormenta cospe-me náufraga

Na praia solitária.

Despida dos sonhos

Sinto a tristeza molhada

A lavar o meu rosto

Choro…

Um choro demorado

Que leva o sol para o outro lado

E eu fito o horizonte

A linha tênue que indica

Onde tudo termina

E recomeça.

No ímpeto de encontrar a felicidade

Atiro-me nas águas

Na incansável busca do teu amor.

Aparecida Dias

Sombras

À  sombra dos dias  que  passaram,

Fiquei!

A velocidade dos ponteiros afastou-te de mim

É no somar das horas que percebo a demora de reencontrar-te

Quanto mais o tempo passa

Mais distante ficas, enfim

As lembranças teimam em ficar

E vagueiam o meu pensamento

Ora nítidas como recentes acontecimentos

Ora opacas com sinais de envelhecimento

As sombras crescem e se esticam  compridas e lentas

Como um entardecer sem fim

Deixam um rastro de tristeza e saudade

Na estrada marcada por pequenos passos de solidão

Enquanto espero o agilizar das horas e o encurtar do caminho

Vou regando nossas lembranças

Cultivando-as com carinho

Há de crescerem em rama e flor

E o sol, enfim,  romperá as sombras

No ímpeto  de beijar as flores e iluminar o jardim

Nesse raiar reluzente

O ponteiro das horas

Esquece toda a demora

De um tempo ausente

E tu vens apressado, abraçar-me apertado

E a encurtar a distância entre dois corações

 

 

 

Carícias 2

Todas as carícias que acalmam minha alma cabem nas tuas mãos

E tu, carinhosamente, partilhas esse amor

a deixá-las escorrerem  livres: doce sereno em pétala de flor.

Sou flor madrugadeira  ardente em desejo

Sedenta de carícias sob os lençóis

Busco teus beijos  que nascem  ansiosos em lábios de mel

A noite nos abraça e apequena nesse instante

A reduzir o tempo  reservado para nós

Toma-me nos teus braços, pois meu coração pulsa desordenadamente  e me faz ofegante

Despe-me  das minhas vestes e envolve-me no teu corpo

Quero tuas carícias em pele nua

Afasta os meus medos e faz-me inteiramente tua

Afaga-me os  cabelos enquanto deslizo o teu corpo sob os meus dedos

Apossa -te  desta for e dentro de mim borbulhas ardentemente

A deliciar no intenso prazer

Deixamo-nos ficar neste calor

Banhados no mesmo suor

E embriagados do mesmo amor.

Aparecida Dias

Amor além do adeus

Disseste-me adeus.

Abracei-te como nunca e beijei-te demoradamente.

Meus braços envolviam-te na esperança de não permitir-te  ir.

Friamente, disseste-me que foi o nosso último beijo.

Olhei-te a ver a sombra do teu rosto por trás da cortina  embaçada  dos olhos meus.

Simplesmente  disseste-me adeus!

Enquanto afastavas teu corpo do meu

Levava a força que mantinha-me de pé.

Meu corpo dobrou-se ao chão: caí.

Chorei.

Sofri.

Inundei de águas chorosas a terra que acolheu a abraçar-me.

Comer já não queria.

Andar não podia.

Meus olhos cerram-se,

O sol já não via.

Criei raízes no chão

Ramos no coração.

Vegetei.

Um corpo a decompor jazido no solo

Tornando-se húmus à terra

As aves visitavam-me , levaram-me os cabelos para seus ninhos

Deixei de existir por tempos incontáveis

Até não mais haver dor

Renasci em flores a colorir os campos

E, desde então, todas as primaveras tu vens me ver

Toca-me

Sente-me

Colhe os mais belos ramos

E ofereces à tua amante.

Tu estás tão feliz!

Choro de ciúme de ti.

Por não ter sabido  te amar assim

Que importa agora, que foste embora?

Floresço para atrair teu desejo

Eu sei que virás sempre a visitar meu jardim

E então, posso beijar-te em silêncio

Disseste-me adeus

Mas eu continuo em teus pensamentos.

Aparecida dias

 

 

 

Artesão do tempo

Cada pessoa é feita de pedacinhos de outras tantas

O carinho de uma

O bem querer de outra

O amor por alguém especial…

E o coração vai costurando cada parte como se fosse um artesão a fazer uma enorme manta de retalhos.

Cada pedaço tem sua história, suas lembranças  e suas marcas

E o coração cobre-se com essa imensa manta e teima em colher as saudades que brotam de cada história.

Colhe, recolhe e  deixa-se levar pelo afeto.

Aí então é que a saudade invade como um fio fino  a penetrar alma adentro…

Começa devagar e bem suave…

Fino fio a percorrer o corpo e a entrecortar a alma

Vai aumentando  a cada dia,

A cada bater das horas…

Conta o tempo como se lesse o calendário

E cresce alimentando-se da fragilidade humana

Fio que de fino se fez e espesso

Coração tenta em vão controlar a velocidade com que tal fio envolve  a alma e provoca dor

Dói.

Dói dor humana e real

Dói dor que magoa o coração.

Cada lembrança costurada, revivida e amada

Cada lembrança que a ausência traz

Traz  também  o carinho que ficou de um tempo que voou

E a certeza de um novo tempo

E uma nova história…

A saudade, então, se acalma

E deita-se a dormir na mesma alma

Que envolvida  de amor

Entrega-se ao afeto da pessoa amada

E o coração retoma a arte

De costurar um pedaço de sonho

Na manta enorme do artesão do tempo.