Nas pausadas horas do findar dia,
Peço um fio comprido do novelo da lua
Pra tecer um conto que continua
A história narrada em pontos cadeia.
Vida que entremeia
No contra-ponto do entardecer.
Teçamos a poesia
Feito tapete colorido no meio da rua
Ou chuva de flores de vento a varrer
O medo da noite nos olhos do tecelão.
Teçamos personagens cantantes
Alegres, dançantes em coloridas linhas.
Teçamos com fio encantado
Uma rua comprida que não termina
No rodopiar da bailarina.
Teçamos as horas descansadas do dia,
Promeças de um novo tempo
De sonhos e alegrias.
Lua que dança nas águas a bricar
E desfia seu manto de prata
A desfilar mergulhada
No azul da vida que passa apressada
Dá-me esse fio de luz
Pra eu coser o mar
Ao prateado manto do sonhar
Ou para iluminar a rua
E refazer as estações
Que veraneiam, sem parar!
Dá-me o fio preto da noite
Na mesma agulha abraçado
A fazer franja matizada
No tapete encantado!
Esperamos os raios da manhã
Pra jogar com a meninada
Bordando amarelinha na calçada
E pássaros a cantar.
Risos e riscos coloridos
Em bastidor de bordadeira:
Céu, sol, lua e brisa madrugadeira.
Teçamos sem parar
As estações da vida
Sempre a recomeçar.
Aparecida Dias